segunda-feira, 7 de outubro de 2013

ESTRANHOS

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O covarde não termina. Fica estranho. É, o homem tem disso. Em algum momento da vida, é provável que todos já tenham pipocado na hora de terminar com alguém.
O cara não quer, sente que não quer, mas treme na hora de dar a real. Fica empurrando com a barriga, deixando no ar a impressão de que a coisa não está boa, como se a mulher já não soubesse disso tanto quanto ele. Triste inocência masculina: se a mulher vê problemas mesmo quando tudo caminha bem, imagine quando a casa está prestes a cair.
Não sei o que é mais patético: o medinho de falar a verdade ou a ingenuidade em acreditar que ela vai terminar. Ela não vai, sabe por quê? Porque, especificamente neste cenário, a mulher costuma ser muito mais fria e sagaz. Primeiro, ela confiará na esperança, vai pensar que é uma fase, apostar no amor, lutar pelos dois. Mesmo nesta época de relacionamentos fast food, a mulher que realmente gosta não desiste tão facilmente. Mas tudo tem limite e uma hora ela cansa, cai na real. E, de repente, surgem nela a paciência e a racionalidade que o homem vive pedindo, porém não a favor dele. Ao invés de criacas, ela começa a cozinhar o camarada no próprio medo, até extrair do infeliz a verdade que a falta de colhões o impede de desembuchar, até ouvir o que ela merece: o final digno, justo e honesto. Quando chega a este ponto, sua preocupação já não é salvar o futuro, mas evitar uma mancha no passado. Para a mulher, a decepção dói mais que o afastamento. Em seu HD emocional existe uma pasta chamada admiração, reservada para as histórias especiais. E lá não tem espaço para o amarelão, este vai direto para a lixeira, onde é deletado novamente, sem direito a restore.
Porque enquanto o poltrão foge de sua responsabilidade, do outro lado ferve a incontrolável indignação: onde está o gostosão cara-de-pau que me chamou para o motel na primeira semana? Cadê o nervosinho ciumento que queria brigar toda vez que flertavam comigo? Sumiu o grossinho dono da razão que gritava nas discussões? Afinal de contas, você está com medo de quê?
De algumas coisas, por exemplo: os dois juntos ele não quer mais, mas também não sabe se o melhor é ficar sozinho. Contradição absurda para quem costuma se julgar a parte equilibrada da relação. Existe também o lance de não querer largar o osso.  Machismo puro, retrógrado, mas corriqueiro: para mim não serve, porém não pode ser de mais ninguém. E tem o mais lastimável de todos os medos, que é não rasgar o verbo para não ver a mulher sofrer. O que, de fato, é arrogância. Em todo arroubo de pena, existe uma porção de sentimento de superioridade, neste caso mais ainda. Esse paradigma tosco de achar que o sofrimento feminino é maior só porque elas choram, demonstram, extravasam. O macho leva a sério demais os elogios e afagos durante o relacionamento, ao ponto de realmente acreditar ser o último peixe do oceano. Ter a certeza que do outro lado existe uma coitadinha que vai morrer por você é burrice, falta de respeito, prepotência. Quando chora na frente do homem que está terminando com ela, a mulher está no último grau da sinceridade, aberta, destemida, honesta com seus sentimentos. E isso, para o homem, às vezes parece estranho.

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