quarta-feira, 30 de outubro de 2013

Me Liga


Me liga quando o sorriso não tiver cabendo no rosto e você quiser compartilhar com alguém o riso e os lábios. Liga pra dizer que tá meio tarde e você não tem onde ficar e pergunta se pode cair lá em casa. Sempre tem espaço pra você mesmo que não haja espaço pra nós dois no mesmo lugar. Sempre tem um pouco de mim deixando você chegar pra me provar que a vida é maravilhosa, como você diz. Me liga, mesmo que seja pra me acordar. Eu juro que não fico bravo com a tua voz – e não fico mesmo. Me liga pra ficar em silêncio e cair em prantos soluçantes… É que o teu choro é mais gostoso que a chuva caindo lá fora e eu prefiro te ouvir falando dele a passar a noite sozinho.
Me liga mesmo que não for pra me pedir abrigo. Ou pra brigar comigo por não ter aparecido no seu aniversário. Eu costumo mandar os presentes por correio porque não ia aguentar ver aquele agradecimento sinceramente amigável brotando do seu rosto. Liga e eu te apresento um amigo. Alguém muito melhor que eu enquanto eu morro por dentro de ciúmes de você. Enquanto eu fico parado, numa mesa de bar, ouvindo os seus mundos colidirem. O meu mundo se destroça e você nem sabe disso. Nem sabe que toda a minha angústia é por conta dessa confusão toda que você provoca em mim. E eu continuo te apresentando a homens melhores, romances menores e sou sempre o último a ficar aqui por você. Dentro do carro. Sozinho. Ouvindo alguma balada numa estação de rádio que poderia ser a nossa se você não preferisse pronomes pessoais de terceira pessoa. Me liga pra eu me autossabotar mais um pouco e jogar você pra mais alguém que não seja eu. Porque eu gosto de ser triste – ou porque eu tenho um medo gigante de perder você ao admitir que sem você a casa é fria.
Me liga pra eu escrever alguma coisa. Num papel de pão mesmo. Ou num post-it da tua geladeira. Eu passo de manhã e levo geleia de morango e leite desnatado. Eu já tenho a chave que menos me importa mesmo. Liga e diz que vai embora. E que não vê a hora de se despedir. Me liga, mas não vem com beijo na testa. Não me interessa. Eu só queria você aqui. Vem um dia desses e diz que quer uma revolução na tua vida. E olha direito – porque eu acho que os seus óculos ficam sempre embaçados quando você tá comigo, e só isso explica o porquê de você não me ver. Podia ser eu e você nunca vai saber disso. Pra ti eu sou o porto seguro em cada estação. Até quando eu for embora. Sem nem dizer a hora. Sem nem dizer o porto e sem nem dizer que eu vou me afogar depois de algumas centenas de metros rasos longe de você. Me liga e pede – de verdade – pra cuidar de você. Com pressa. Sem essa de que você tem muito a perder se tirar os pés do chão comigo.
Me liga e me diz que eu sou o amor da tua vida. Que tu acordou hoje e percebeu que esse tempo todo sou eu ali do lado, mendigando amor e um pouco de atenção. Liga e diz que encontrou as fitas, os vídeos, os livros e tudo mais que eu te dei porque me lembravam você. Liga e diz que não tem mais briga, nem lamento, nem história nenhuma com eles que eu tenha que ouvir. Me liga pra dizer que passa aqui de manhã cedo e que vai me acordar com um beijo pra me espantar da solidão.
Daniel Boveleto

SOBRE O MEDO DE SENTIR


Tem dias que sinto saudades de ter um diário, sabe, aquele livrinho que sabe tudo o que se passa na sua cabeça sem qualquer julgamento. Aquele livrinho que sabe mais sobre sentimentos do que qualquer livro de auto ajuda. Aquele livrinho que guardamos no fundo das gavetas com medo de que alguém o leia. Ter um diário é sinônimo de falar abertamente sobre o que se sente, e por que diabos isso é tão difícil? Sempre tive uma enorme dificuldade em me abrir, assim como a dificuldade de manter meus diários. Escrevia o que estava pensando, lia, relia. Pareço uma idiota, pensava. E isso me frustrava a ponto de parar de escrever. Diário? Besteira. Isso é coisa de menina iludida.

A verdade é que eu tinha medo de admitir - mesmo que por palavras em um papel esquecido - que eu sentia coisas demais. As pessoas não eram dignas de tanto sentimento. Pessoas sempre nos decepcionam, repetia para mim mesma.

Viver à espreita da decepção tem suas vantagens, quero dizer, pessoas que desconfiam antes de acreditar tem mais chances de saírem ilesas de alguns relacionamentos. Nem preciso dizer que me forcei ser essa pessoa durante boa parte da minha vida. Antes mesmo que a decepção pudesse tocar minha campainha, eu já havia aberto a porta, preparado um café, e colocado um tapete de boas vindas na entrada. É mais fácil aceitar a decepção do que ir contra ela.Venha decepção, senta aqui, me conta as últimas, e puxa, por que demorou tanto? As desvantagens de ser uma pessoa assim? Todas as outras. Pessoas desconfiadas não abrem o seu coração, e bem, se elas não o abrem, como poderá o amor entrar? E desse veneno, eu também provei. Na porta do meu coração - lacrada a sete chaves - tinha um outdoor com dizeres que piscavam ''Eu sei que você é um idiota e diz isso para todas as outras. Nem adianta.'' 

E foi assim, e eu achava que ia ser sempre assim, e eu queria que fosse sempre assim.

Até o dia em que perdi o controle. Eu te amo, muito. De verdade. Disse enquanto olhava no fundo dos olhos dele. Eu nunca olhava nos olhos de ninguém. Sei lá. Me incomodava o fato de que alguém pudesse ver o que eu sentia através dos meus olhos.



Do seu lado eu fico em paz, é como se nada no mundo pudesse me atingir. É como se eu soubesse que o mundo poderia acabar a qualquer segundo, e não me importasse nem um pouquinho com isso. Pois estaria ao seu lado. 
Sempre observava casais apaixonados pelas ruas da cidade, e me perguntava se o que eles tinham eram realmente de verdade, ou só mais uma encenação bem feita como nos filmes. Eu os invejava. Por que eles eram tão felizes? Por que eu não podia ser como eles? 
E agora nós somos um desses casais, porque a única coisa que eu consigo fazer quando estou ao seu lado é ser feliz. É sorrir. É te querer. É te amar. É te dizer o quanto você me encanta. 
Do seu lado eu sou um estômago infestado de borboletas, pássaros, beija-flores, e qualquer outro animal que tenha asas. Asas. Você deu asas ao que antes era uma garota que insistia em se agarrar à segurança que o chão traz. Voar alto demais traz consigo o risco de se machucar com a queda. Mas adivinha... Eu não me importo. Porque eu sei, simplesmente sei, que você nunca vai permitir com que eu me machuque. E eu te amo por isso. E digo que te amo mais uma vez. Só mais uma. Só mais uma... E você sorri de volta. E diz todas aquelas coisas que me deixam louca. Mais uma vez. E eu te amo de novo, um pouco mais do que antes, e menos do que daqui a pouco.
 E eu me pergunto se isso vai ser sempre assim, porque se for... Eu juro que quero viver para sempre.

Essas palavras poderiam estampar toda uma página do meu diário, com toda a certeza. Mas isso era verdadeiro e forte demais para ser escrito em um papel que poderia se rasgar com o tempo. Disse tudo isso olhando nos fundos dos olhos dele. Espremi os sentimentos para fora do meu corpo sem me importar se eles pareciam exagerados ou tolos demais.

Logo depois tirei o tapete de boas vindas para a decepção, fechei a porta, fiz a cama, e pedi que ele ficasse deitado comigo em silêncio por um tempo. Eu precisava escutar a sua respiração, sentir a sua presença, e permitir que ele abrisse a porta, agora entreaberta, do meu coração. Antes de entrar, leia o outdoor que agora diz ''Pode entrar, e fazer bagunça. Mas por favor, promete que vai ficar?'' Fica, vai.

E pela primeira vez eu não tive medo de sentir tanto. Eu só sabia que queria sentir mais.

sábado, 26 de outubro de 2013

Até aparecer você


Até aparecer você, aquela história de amar mais em um relacionamento nunca tinha feito sentido. Nunca tinha sido eu a me jogar de cabeça sem medo, sem pensar nas consequências e no coração partido. Nunca tinha sido eu a assumir o papel de quem se entrega mais, de quem dá o coração sem pedir nada em troca. E eu nunca achei que um dia eu me veria do outro lado: o lado daquele que acaba tendo mais a perder. Logo eu, que quebrei sem receio tantos outros corações por aí. Logo eu, que vi outros sorrisos e abraços exigindo um amor que nunca tive. Até aparecer você.

Até aparecer você, nunca tinha sido tão intenso. Nunca tinha sido menos amor. Pelo menos, não esse amor calmo, tranquilo e simples de histórias passadas. Com você é sempre fogo, faísca e paixão. E eu vivo morrendo de medo que a gente incendeie. Eu vivo com pavor de que queimemos nossa própria história, de que nós dois viremos pó jogado ao vento. Até aparecer você, eu nunca tinha me tocado que eu tinha tanto a perder. Pior: eu não tinha nem reparado que eu já tinha perdido.

Antes de você, eu já tinha esbarrado com o amor por aqui. Eu já tinha ficado cara a cara com o que todos dizem ser a melhor parte da vida. Eu já tinha encontrado o tipo de cara certo para casar. Mas o tipo de cara certo para casar apareceu na minha vida antes de tantas outras coisas. Apareceu na minha vida antes de você. Eu apareci na vida dele antes de muitas outras coisas também. E eu deixei o cara certo para outro momento, deixei que ele esbarrasse com outros amores, deixei que fosse curtir outros beijos, outros abraços e outras declarações. Achei que tudo bem abrir mão de quem se entregava para mim sem nem pensar duas vezes. Mas aí você veio.

Você veio rápido, sem freio, sem aviso, sem nenhuma preparação. Você veio enquanto eu decidia se tinha tomado a decisão certa. Você veio e me fez cometer outros milhares de erros. E me deixou sem ar e sem chão.Porque com você se tornou assim: o tudo ou o nada. O começo e o fim. E eu vivo morrendo de medo de que a gente acabe quando o fogo apagar. E que, finalmente, eu comece a me arrepender de tudo o que fiz até aparecer você.

Mas, talvez, encontrar você seja uma dessas coisas que o destino tinha me reservado. Sem você eu não saberia o que é me jogar de cabeça em uma piscina vazia. Não saberia o que é me largar em um buraco sem fundo. Ou o que é pular do precipício sem saber se há ou não uma cama elástica lá embaixo.

Talvez a gente acabe. O que é que não acaba, de um jeito ou de outro, nessa vida? Que seja. Porque, com você, eu finalmente aprendi como é ser aquela que ama mais. E, com isso, aprendi a dar mais valor ao amor que me entregam também. Porque, talvez, você seja  isso: uma enorme liçãoNo fim, a gente só dá valor mesmo ao amor calmo depois de perder a cabeça em loucas paixões.

quarta-feira, 23 de outubro de 2013

Deixa o amor entrar



Sei que você tem medo. Eu também tenho. Vem, confia em mim vamos caminhar juntos. Vem, pode vir. Tá escuro mas dá pra ver. Vem! Vamos esquecer esse medo. Vamos arriscar? Junte sua mão a minha se for preciso, você pula? Esquece o medo de altura, não vai te levar a nada. Ok. Tem lugar pra você. Você pode ficar no sofá. Fica porque eu nunca me joguei tanto assim em uma história sem futuro.Fica porque você me traz paz. E para alguém que cresceu em meio ao caos um pouco de calma é sempre válido. Fica porque eu sei que eu represento um pouco de tudo isso para você também. Não é?

Vamos pular. Você me agarra forte? Se segura em mim. Abre os braços e deixe o vento te guiar. Estamos seguros, tá? Relaxa,vem. Então continua aí, fica do meu lado.

Vem, pode mergulhar. A água aqui é rasa e o pé fica no chão o tempo todo. Afunda a cabeça nas suas paranoias e esquece os problemas. Solte os braços e pensamentos. Aprenda a se encantar por tudo aquilo que é belo. Aprenda a ver que tudo vai muito além, sabe? O coração, a mente, a boca, esse mar. Vai andando em frente. Segue seu rumo, seu coração, seus próprios riscos. Não tenha medo de maiores profundidades. Isso, vai fundo, você está próximo, chegando, espera. Aí não dá pé. Vai abre o coração. Eu sei que você também sente esse  sentimento ganhando espaço.Sabe pode ser que a gente esbarre com um casamento. Com uma união estável. Com um namoro eterno. Talvez um rolo.Mas, quem sabe, talvez, um dia, no final ou no meio do caminho, a gente esbarre por aí com algo que dê pra chamar, finalmente, de verdadeiro amor. Agora tenho essa sensação no peito: ela pode ser a única. Não sei como ficar com você agora. E isso me assusta. Porque se eu não ficar com você agora, tenho a sensação de que vamos nos perder por ai. É um mundo grande, malvado, cheio de reviravoltas. E as pessoas tem um jeito de piscar e perder o momento. O momento que podia ter mudado tudo. Eu não sei o que está acontecendo. Então vamos tentar. Combinamos por hoje, amanha se der certo combinamos pra sempre. Me de sua mão e deixe o relógio rodar.
Amanda Cristina

segunda-feira, 21 de outubro de 2013

Fran, A Menina Que Fez Sexo – Uma História Sobre Machismo E Hipocrisia

Fran, A Menina Que Fez Sexo –  Uma História Sobre Machismo E Hipocrisia

Era uma vez uma menina chamada Fran. Fran fez sexo. Transpirou, sorriu, chupou. Como boa cristã, ainda ofereceu a outra face – quer meu cuzinho, quer? Meu cuzinho apertadinho? Ele provavelmente quis. Deve ter se deleitado pelo lado B da moça. Se ela gozou? Isso eu não sei. Só sei que Fran fez sexo – algo que eu, inclusive, faço com bastante felicidade. Que você certamente já fez se tem pelo menos 18 aninhos. Que, lá na China, um bilhão fazem – como diria Chico Buarque. E que – pasme! – seus pais fizeram nove meses antes de você nascer. É, meu amigo. A verdade é dura. Muitas vezes, mais dura do que o pau sobre o qual se senta. Mas ela há de ser encarada. Sua mãe pode ser Maria – assim como a minha é –, mas ela não é virgem. Não é imaculada, não é donzela, não é santa. E olha, corre até o risco de ela já ter perguntado ao seu pai, gesticulando como se fizesse um ok com as mãos: quer meu cuzinho, quer? Meu cuzinho apertadinho?
Suposições e choques de realidade à parte, é com muito, mas muito pesar que escrevo este texto. Eu poderia estar tomando uma caipirinha de limão à beira-mar. Eu poderia estar descansando depois de ter comido uma bela duma feijoada com farinha e pimenta. Eu poderia estar assistindo à Sessão da Tarde. Ou poderia estar hidratando meus belos cabelos. Mas estou aqui pra repercutir o caso de Fran, a menina que fez sexo com um babaca. A menina que, do dia pra noite, teve sua vida destruída por um vídeo de treze segundos. A menina que, certamente, foi alvo de risadas de uns e de punhetas de outros. Ou a vadiazinha que queria aparecer, na linguagem do patriarcado.
Não me importa o tamanho da ingenuidade ou da safadeza de Fran. Não me importa se ela tem um filho de dois anos com outro cara. Não me importa se ela preferia anal ou uma gozada bem dada na cara. E não me importa se o brother com quem ela transou era amigo, amante, namorado, loiro, moreno, careca, cabeludo, rei, ladrão, polícia ou capitão. A única coisa que importa nesse momento é que reflitamos e aceitemos a verdade: vivemos em uma sociedade hipócrita, violenta e machista. Porque achamos um absurdo ver a Fran pedindo uma gozada na boca, enquanto olhamos para o maltrapilho que pede esmolas como pura banalidade. Porque batemos palmas para o cara que pega várias – aê, garanhão! – enquanto difamamos a menina que transa com quem bem quiser –aê, piranha! Porque aceitamos calados, durante anos, a inversão de papéis que o machismo comumente promove – estava usando um decote até o umbigo, então pediu para ser estuprada.
Se deixou filmar, então pediu para ser publicamente exposta e hostilizada. Esse é o argumento de inúmeros dos infelizes que comentam o caso de Fran nas redes sociais. Como se o desvio de caráter estivesse em realizar um desejo muito comum entre parceiros sexuais, e não em desrespeitar o acordo tácito entre qualquer casal que faz sexo: a privacidade e a intimidade. Quando se está na cama – ou no carro, ou no chuveiro, ou no banheiro, ou na putaqueopariu – com alguém, o mínimo que se espera é liberdade para expor os próprios desejos e respeito com até a mais bizarra das fantasias. Porque sexo é cumplicidade. É sociedade. É eu entro com meu pau e você entra com a sua buceta. E se Fran pecou, foi por, talvez, ter entendido o real sentido da palavra sexo. Por isso, em vez de julgá-la, que tal ir cuidar do seu próprio prazer? Acredite em mim: uma gozada pode operar milagres. E dia desses eu li naquele livro sagrado que os homens tanto veneram que, sim, Deus ama quem dá com alegria.

A formula certa para perder o amor da sua vida


João ama Maria que ama Roberto que ama a Paula que ama o Ricardo que fica sozinho chorando pela Renata. E por aí vai, infinitamente. Desde quando ficou tão difícil encontrar a tampa da panela, metade da laranja ou qualquer outra coisa relacionada? Não sei. Talvez as pessoas estejam seletivas demais. Vazias demais. Conectadas demais. Distraídas demais. Naquele exato dia em que um estranho esbarrou em você e derrubou seus livros, talvez, quem sabe, se você não tivesse se irritado tanto, ele pudesse notar que seus olhos não são castanhos e sim cor-de-mel. Talvez os achasse encantadores e a convidasse para sair com um belo sorriso. E você saberia que ele fuma, pelo leve tom amarelado dos dentes dele. E se encaixariam de tal forma que até os deuses duvidariam. Mas você, mais que depressa, tratou de franzir a testa e mandou ele olhar por onde anda. Uma pena.

Teve também aquele dia na balada, lembra? O amigo do seu melhor amigo ficou encantado com você. Caiu de quatro e se você quisesse, lamberia seus pés e cheiraria os caminhos pelos quais eles andaram. Percorreria seu trajeto para, quem sabe, te encontrar em uma outra vida, se necessário. Mas você fez questão de virar uma dose, cantar uma daquelas músicas "deprê" e falar que estava na fossa. E que amava seu ex e não queria se envolver com ninguém. E ele, prontamente, saiu da sua frente depois de ouvir você dizer que ele estava te atrapalhando assistir aquela banda desconhecida mas que tocava músicas que se encaixavam perfeitamente em sua vida.




O amor da sua vida passou diversas vezes por você enquanto você perdia seu tempo reclamando a inexistência dele. Ou mendigando o amor de quem não dava a mínima. Você se perdeu do amor da sua vida no "Oi" que não disse, no sorriso que não deu, na verdade que omitiu. Você o deixou na estação em que não parou, na festa que não foi por pura preguiça, nos convites que recusou. E ele, obediente que só, se afastou - ou sequer aproximou.

A fórmula certa para perder o amor da sua vida é se apegar ao passado, aos detalhes que nem importam tanto assim, a cegueira envolta por sofrimentos passados. Quer se surpreender? Deixe ele entrar. Deixe-o ocupar a alma, o coração, o lado da cama que ficou vazio depois daquele adeus. Deixe. Dê uma chance a vida, ao acaso, a si mesma. Se solte. Respire. Se apavorar para quê? Sem fingimentos. Chegou a hora de despir a armadura e tirar a máscara. Se perca, para que alguém te encontre. Mergulhe em si mesma. Se afogue em sua felicidade. E espere, que logo alguém vem te salvar ou mergulhar com você. Porque quando se trata da palavra "amor", morrer ou viver em busca da felicidade plena, sempre dá no mesmo.
Vem, pode vir. Tá escuro mas dá pra ver. Vem! Que medo é esse de arriscar? Se for preciso, você pula? Esquece o medo de altura, não vai te levar a nada. Ok. Vamos pular. Você me agarra forte? Se segura em mim, já fiz isso antes. Abre os braços e deixe o vento te guiar. Estamos seguros, tá? Relaxa.
Vem, hora de correr. Vou chegar aos 180 km/hr, quer ver? Abra os vidros. Eu não sei que queda é essa que tenho pelo vento, mas ele me conforta. É como se em um toque, eu conseguisse diminuir minha alma num tamanho que ela caiba dentro do meu peito. Gosto de correr riscos quando me sinto perdida. Eu preciso me reencontrar por alguns instantes, mas não dá pra fazer isso sozinha, entende? Tá, então continua aí, fica do meu lado.
Vem, pode mergulhar. A água aqui é rasa e o pé fica no chão o tempo todo. Afunda a cabeça nas suas paranoias e esquece os problemas. Solte os braços e pensamentos. Aprenda a se encantar por tudo aquilo que é belo. Aprenda a ver que tudo vai muito além, sabe? O coração, a mente, a boca, esse mar. Vai andando em frente. Segue seu rumo, seu coração, seus próprios riscos. Não tenha medo de maiores profundidades. Isso, vai fundo, você está próximo, chegando, espera. Aí não dá pé. Pensando bem, é melhor eu ficar por aqui. Eu não sei nadar, moço, nem remar. Me desculpa, tá? Segue sozinho. Eu não sei amar.
__Riane  Ribeiro

Estamos todos nos adaptando

adaptandoTenho carregado um sentimento suspeito. Algo que de alguma forma sempre fez parte de mim, mas que de uns tempos pra cá, começou a transbordar aos pouquinhos. Posso ouvir a goteira no intervalo de uma música e outra. Não sei se deveria dizer agora, mas isso tem me consumido mais do que deixo parecer. Basta uma faísca de tristeza para que tudo ao meu redor se torne absolutamente questionável. Queria ter as certezas de antes. Era tão mais simples quando eu achava que sabia todas as respostas – o conforto da superficialidade. Hoje nem sei se estou pronta para ouvir as perguntas. Nem ligo se a razão está ou não aqui.
- Crescer é assim. Você aumenta de tamanho e ganha mais espaço aí dentro.
- Mas eu detesto esse vazio, meu senhor.
- E quem gosta, garota?
Nessa vida estamos todos nos adaptando a alguma coisa. Todos. Eu, você, as inimigas, o pobre coitado do entregador de pizza que detesta dias chuvosos como hoje e até a polêmica Miley Cyrus. No final das contas, em realidades um tanto quanto diferentes, óbvio, queremos basicamente a mesma coisa dos dias que vem e vão: paz.
Ô palavrinha de significado complexo, minha gente. Mas não foi sempre assim, lembra?
Até o fim do maternal era tão simples descrevê-la. Uma pombinha e pronto, todo mundo sabia exatamente o que eu queria dizer. E ela nem precisava de fato parecer um pássaro, viu? Era só rabiscar as curvas das asas e um triângulo pro bico – a folha do papel já era branca. Depois, nas aulas de história do ensino médio, paz virou o contrário de guerra. O intervalo do conflito entre dois países ou estados que disputam bens naturais e poder. Meu professor dizia com tanta convicção, que eu nem pensei em contestar. Então tá, paz é isso.
Passaram-se horários longos, dias demorados, semanas curtas, meses solitários, semestres complicados e anos intensos. Deixei de confiar em quem podia ler o meu diário, troquei de CEP três vezes, aprendi a gostar das bandas barulhentas do meu irmão, me apaixonei por uns carinhas aí – continuo tendo o mesmo dedo podre de antes – e escrevi um monte de textos como esse só pra tentar organizar meus sentimentos mais secretos.
- Onde você guardou o amor?
- Acho que eu deixei no caminho.
- Então volte.
- E se eu me perder?
- Você não iria muito longe sem ele.
Sou taurina, mineira e teimosa. Não acredito nessas convenções baratas, mas como minha mãe sempre disse antes de boa boa bronca, quando coloco algo na cabeça ninguém consegue tirar. Em todos sentidos. Não falo muito e escondo coisas até de mim mesma. É uma luta interna. Preciso sempre ir até o final, mesmo que esse seja um caminho solitário. Dito assim, parece besteira, mas ainda não sei lidar com os meus próprios demônios de outra forma. Tô tentando. Tô tentando. Tenho é medo de me corromper. Medo de me tornar vulnerável de novo. Medo de compartilhar a confiança que me resta. Quando ninguém está por perto, ela ainda me faz companhia.
- Por que é tão mais simples para as outras pessoas.
- É simples porque não é com você.
Parece mais fácil quando deixamos o mundo saber o quanto dói, mas fazê-los pensar que existe um culpado não nos torna inocente. Somos donos dos nossos próprios medos, de toda a insegurança acumulada, escolhas e também dos receios que a vida nos fez ter. Armadura nenhuma nos protege de nós mesmos. Ou seja, tudo isso infelizmente não significa que conseguiremos controlar essa bagunça em forma de insônia ou ansiedade, mas nos mostra que se trata de uma pendência interna que antecede qualquer promessa feita e desfeita.
Tempo. As memórias vão fazendo uma trança nos fios de cabelo da nossa história. Carregamos ali um pouco de tudo e todos que conhecemos – a parte madura e também a parte podre. Vamos transferindo manias, conhecimento e afeto por aí. Até que um dia as antigas músicas servem de trilha sonora para novos momentos, as palavras que um dia perfuraram nosso peito são usadas numa mesa de bar e o cheiro doce no travesseiro desaparece por completo. Nós continuamos os mesmos. Eles continuam os mesmos. Mas isso não quer dizer nada pois não se trata de um jogo de sete erros – são muito mais.
- O que isso tem a ver com a paz, garota?
- A última vez que eu a vi, estava escondida num olhar.
Se a vida fosse um ônibus, eu diria que somos todos passageiros. Alguns descem mais cedo. Outros nos fazem querer mudar de lugar. Hora estamos distraídos olhando através da janela, hora só queremos um pouco de conversa fiada pro trajeto parecer mais curto. Às vezes adormecemos sem querer no ombro de um desconhecido, às vezes fechamos os olhos por querer. O importante, eu diria, é continuar sentindo vontade de chegar em algum lugar.
São seis da tarde. Cidade grande. Ônibus lotado.
Sobre a palavra com três letras? Desenhei cinco pássaros no meu braço e tenho aguardado ansiosamente o fim do conflito entre minha cabeça e o meu coração. Pois é. Eles tinham toda razão.
__Bruna Vieira

terça-feira, 15 de outubro de 2013

O tesão move montanhas

O tesão move montanhas
O tesão pode ser considerado um sentimento? Se puder, sem medo eu afirmo: é o mais entorpecedor de todos eles. Mais que o amor. Mais que a saudade. Mais até do que a paixão. Já experimentei algumas drogas e, diversas vezes, perdi a noção da realidade, mas, com toda certeza, nada na vida me fez enlouquecer tanto quanto o tesão me faz.
O tesão, de tão embriagante e por nos fazer agir com imensa displicência diante dos riscos, é, em muitos casos, um perigo incontrolável. Graças a ele, já esqueci que moro em um país extremamente violento e, bem no meio de uma rua escura e visivelmente perigosa, transei como se estivesse dentro do Papamóvel. Não liguei para os riscos de ser assaltado, pois o tesão me dizia: “aqui é o lugar ideal para ficar pelado”. Movido pelo tesão, ou melhor, completamente possuído por ele, dentro de um cinema lotado, negligenciando todas as chances de ser flagrado pelo casal da poltrona de trás, abri o zíper e, sem pudor algum, coloquei o pau pra fora como se estivesse hasteando a bandeira no dia sete de setembro. Já fiz muitas coisas estúpidas quando estava alcoolizado, mas, nenhuma delas foi tão arriscada como as que o tesão me levou a fazer. Quando traí a mulher que me fazia feliz, estava bêbado, claro que estava, porém, afirmo: “a culpa não foi da bebida e sim do maldito tesão que bebeu cada litro de razão que existia em minha conduta”. Quando estava no ápice do tesão e duro como uma pedra, já deixei que me filmassem agindo feito um vira-lata metelão e tarado. Isso mesmo! Sem cobrar cachê e sem medo de cair na net, dei uma de Frota e fiz parte de um vídeo amador. Qualquer dia desses, minha avó me ligará para avisar que me viu no canal “Amadores” do Porn Tube. E, quando isso acontecer, colocarei a culpa toda no tesão, pois ele é pior que o Exú Caveirinha quando resolve possuir alguém. Tirar o demônio de dentro das pessoas é fácil, qualquer pastor faixa branca consegue. Agora eu quero ver remover o tesão de dentro do demônio. Aí o papo é outro.
O tesão também é a causa de muitas tragédias. Duvida? Acha mesmo que os aviões caem por causa de panes em motores ou falhas no sistema de localização? Nada disso! Isso é o que eles dizem para a assessoria de imprensa a fim de evitar maiores constrangimentos. 99% dos acidentes aéreos são causados por pilotos de olho nas aeromoças ou que estavam distraídos olhando fotos eróticas. É sério! Sabe o Titanic? Acha mesmo que a culpa foi do iceberg que estava ali de boa no mar? Nunca! O comandante, antes de bater com o navio no gelo, estava batendo uma punheta imaginando as tetas da Rose. Se não quiser acreditar, tudo bem. Contente-se com a versão fantasiosa e absurda do James Cameron. Não apenas tragédias aconteceram graças ao tesão. Uma grande descoberta foi movida por ele. Tá ligado o Cristóvão Colombo? Então, quando descobriu a América, ele não estava querendo chegar às Índias. Nem pensar. Ele queria mesmo é achar umas índias peladinhas para sapecar. Acha mesmo que ele estava atrás de especiarias? Que ser humano, em um navio capenga como aquele, navegaria em um mar turbulento daqueles só para encontrar temperos novos? Não faz sentido, né? Se esse for o caso, melhor ficar com o sal e o azeite mesmo. Foi o tesão que o fez navegar. O mesmo tesão que fez você cruzar a cidade em pleno domingo chuvoso em busca de uma perereca! Você faria isso se acabasse a noz-moscada? Claro que não. Quer saber outra bomba que seu professor de história não lhe contou? A Mona Lisa não foi pintada em nome da arte. Leonardo da Vinci só pintou esse quadro, pois queria dar uma pintada numa mina aí e não sabia qual presente dar a ela. Cara, é tudo culpa do tesão! Acredita agora?
Esqueça aquele papo besta que diz que o amor move montanhas, pois quem move mesmo é o tesão.
Via EOH

Você pula, eu pulo


Talvez esta não seja nunca uma história de amor. Talvez sejam apenas os seus olhos castanhos me olhando como se apenas eu importasse no meio desta coisa toda. Ou a forma como você sempre tem as respostas certas para todas as coisas sem importância que eu resolvo compartilhar. Pode ser que eu tenha uma queda por amores que não vão vingar. Fique atento. Eu vivo por aí me metendo em romances que jamais serão como os contos de fadas com finais felizes.

Dizem que meu dedo é podre. Algo que falaram depois de tantos outros antes de você. Não é pessoal. Digo, este meu medo todo de que você arrume as coisas e vá embora. Ou que fique e destrua cada partezinha de sentimento bom que eu nutra por você. Não é você, entende? Sou eu e meu medo de que os finais se repitam, depois de tantos começos desiguais. Sou eu e minha mania de escolher sempre os caras errados.

Talvez seja você. O tal do cara certo, sabe? Eu acordo e olho o jeito como você dorme e penso: talvez seja você. É ilusão? Porque já foi ilusão tantas vezes. Talvez seja mesmo uma vontade absurda de que, pelo menos uma vez na vida, alguma coisa continue. Que não tenha um final desses doloridos, que dão vontade de se matar. E então eu penso: talvez seja ele, meu Deus. Talvez seja, tem que ser. Ou talvez seja só esta minha fraqueza por mentiras sinceras que sempre me interessaram. Não é?

Mas e se 2 mais 2 deixasse de ser 4? Se as coisas funcionassem como nos filmes por uma única vez? Você seria o galã que surgiria do nada e acabaria com todos os outros problemas do mundo? Dizem que sonhar não custa nada. Posso sonhar com um final bonito com você, então? Melhor: posso sonhar com um meio calmo, tranquilo e feliz?

Tudo bem. Talvez a gente nunca deixe de ser rascunho. E aí vou amassar os meus rabiscos e jogar em uma caixa. Mais uma das histórias que eu poderia ter vivido. Talvez doa, talvez não. Talvez uma parte de mim fique feliz ao saber que pelo menos o ensaio aconteceu. Mas e se a gente se apresentasse e esperasse os aplausos no final?

Porque dessa vez eu não quero mesmo uma história de amor. Nem filmes, romances, rascunhos, rabiscos, galãs ou dramas mexicanos. Eu abandono minhas expectativas e fico só olhando seu sorriso enquanto sonha com qualquer coisa sem importância. Eu tento, só por tentar.

Mas você pula do precipício comigo? Você está disposto a encarar a coisa toda ao meu lado? Você fecha o olho e mergulha? Me diz, talvez dê para ser, pelo menos, uma história? Porque eu cansei de me jogar sozinha. Mas aí eu paro e penso: talvez seja ele. E então, é você? Você pula, eu pulo, sabe?


E antes que eu possa ver, droga, resolvo me jogar. 
Via:KR

Eu sou uma laranja inteira

Escrevo sobre coisas que não entendo. E uma delas são essas pessoas que vivem em busca da metade da laranja.
Pessoas que saem por aí negando felicidade, escondendo sorrisos e desperdiçando vida porque ainda não encontraram alguém, e jogando no outro a responsabilidade de fazê-las felizes, como se essa obrigação não fosse inteiramente nossa.
Buscar algo que te complete significa pressupor que você nasceu pela metade. Faltando um pedaço que necessariamente precisa ser encontrado. Significa reduzir a vida a muito pouco, a uma caminhada em busca de um complemento. Apenas UM complemento, que te priva de outras frutas inteiras, interessantes e deliciosas. Significa reduzir infinitas possibilidades a uma procura sem sentido.
E aí vira desespero. Vem aquele medo de morrer pela metade, ou, pior ainda, de viver pela metade. Porque toda busca esconde um vazio, e todo vazio desperta carência.  E a carência é repelente de paixão, de afeto. É um círculo vicioso e sem fim.
Pessoas que vivem em busca de algo que as completem tendem a passar a vida inteira como metades, como pedaços incompletos e perdidos. Ou, pior: elas encontram outras metades.  Sim, porque metades não encontram inteiros. Metades só encontram metades: é pura lógica. E essa busca é tão desesperada, que não dá pra encontrar metades simétricas. Aliás, tenho lá minhas dúvidas de que existem metades que se completem perfeitamente. A maioria encontra metades assimétricas. Que não casam, não complementam, não encaixam. Mas elas continuam ali, tentando a todo custo e, quase sempre, sem nenhum êxito, transformar duas metades em um inteiro.
E, se você quer saber, o que mais há nesse mundo são metades. Pessoas incompletas ou completamente vazias – que, evidentemente, não têm muito a oferecer. Metades são rasas e perdem o encanto. Duas metades não são um inteiro: são apenas duas metades juntas, dividindo a amargura de serem apenas duas metades. Duas metades que perdem um pedaço de si toda vez que tentam encaixar-se para tornarem-se inteiros.
Mas eu compreendo. É que a gente cresce ouvindo que, em algum lugar distante, há um príncipe. Ou um sapo, ou um vilão, tanto faz. O fato é que a gente cresce ouvindo que alguém – bom ou ruim – virá, no momento certo, pra nos dar o que nos falta de nós mesmos.
E aí vamos nos acomodando. Vamos deixando de preencher nossas lacunas, de buscar nossas respostas, de formular nossas perguntas. Nós envelhecemos com o pensamento de que “alguém vai chegar” e fazer o serviço que é nosso. Alguém vai chegar pra nos dar a felicidade que, sozinhos, fomos incapazes de encontrar. E, se de repente, chega, construímos um relacionamento imaturo e doentio. Uma relação de necessidade. Afinal, aquele ser faz parte de nós. É o nosso pedaço que faltava. E se ele for embora, faltará uma parte, novamente. Metades que se encontram jamais se sentem inteiras. Ao contrário, elas são cada vez mais metades até se reduzirem a nada – elas se perdem na ilusão de que podem se completar.
Pessoas inteiras, ao contrário, são excepcionais. Pessoas completas – que, consequentemente, atraem outras pessoas completas – estampam no rosto a auto-realização. Elas encontram – veja bem, sem precisarem procurar – outras laranjas inteiras, doces e maduras. Elas compreendem que não lhes falta nada: mas, é claro, uma boa companhia vai bem. São completas, profundas, infinitas. Laranjas inteiras desfrutam o melhor das relações, que é compartilhar o seu inteiro com o inteiro do outro.
Antes de encontrar alguém, encontre – em você mesmo – a outra metade que te falta. Descubra seus segredos, seus gostos, desfrute da deliciosa solidão do auto-conhecimento. Procure-se e encontre-se, até se tornar tão absolutamente encantador a ponto de atrair pomares inteiros. E, só depois de encantadoramente completo, encontre alguém que te transborde.

Nathalí Macedo

domingo, 13 de outubro de 2013

Pode Ir

Pode Ir – Crônica Sobre Um Amor Menos Egoísta
Apenas esteja bem. Não precisa me contar sobre a sua sorte, apenas estampe no rosto um ar de tranqüilidade e sutileza.

Eu juro que não me importo com a sua distância, mas esteja onde estiver, esteja bem. Mesmo que não seja pra mim, estampe esse sorriso lindo no rosto e tenha brilho nos olhos, mesmo que, de longe, eu não possa ver.
Pode ir. Só não lamente enquanto arruma as malas. Espero que, mesmo longe da nossa cama, você durma tranqüilo. E se der, volta pra me contar que não teve mais aqueles pesadelos e que está cuidando do seu braço machucado. Diz que tem estado de melhor humor, só pra eu saber e ficar feliz também.
Não precisa mais elogiar o meu cabelo, mas continue vendo beleza na vida. Mesmo que eu não esteja ao seu lado, faça o que você gosta de fazer. Xingue vendo futebol, só pra eu saber que você ainda tem humor  nem que seja pra ver o seu time perder. Não precisa mais ler o que eu escrevo, não. Mas diz pra mim que você ainda tem vontade de acordar e correr pra a vida.
Não me abrace apertado daquele jeito, como quem precisa de um abrigo. Pode me dar um beijo distraído de quem está feliz demais pra prestar atenção em qualquer coisa que seja. Não fica perto dos nossos problemas que te roubaram o sorriso, não. Pode ir feliz e de bem com você. Eu vou estar te vendo de longe e vibrando contigo, mas eu prometo que não vou deixar você perceber.
Viaja. Conhece as coisas, as pessoas e os lugares que te farão feliz. Conhece a si mesmo e me diz que gostou do que descobriu. Porque por nada nesse mundo eu quero ver a sua tristeza de perto. Não se eu puder evitar. Eu prefiro o teu sorriso distante que a tua lágrima molhando meu ombro.
Espero que você vença essa saudade que você nem sabe do que é. Espero que o sol brilhe de novo pra você, que as borboletas invadam seu estômago de novo. Espero que você descubra novos hobbys e novos amigos, e, é claro, que alimente os antigos. Espero que amor não te falte – o meu nunca vai faltar.
Se quiser, pode voltar. Meus olhos, possivelmente, ainda serão seus, e meu coração ainda estará pronto pra te aquecer. Nosso vinho ainda estará guardado, nossa cama ainda estará feita, nossas viagens ainda estarão programadas. Eu juro que posso esperar pela sua felicidade. Mas se não quiser voltar, continua gargalhando e brindando a vida em qualquer lugar. Eu vou brindar ao seu sorriso, mas fique bem. Apenas fique bem.
__Nathalie Macedo

quinta-feira, 10 de outubro de 2013

Sobre Travesseiros E Amores Mal Resolvidos

Sobre Travesseiros E Amores Mal ResolvidosFinal de semana badalado. Sorrisos, abraços, diversão. Gente bonita, gente feia. Gente interessante, gente inconveniente. Tudo aquilo que você não fazia há tempos. Tudo bem, faz parte. Depois de uma cerveja e outra e outra e outra, você acha tudo um máximo. Tudo perfeito. Até chegar a segunda-feira.
Ah, a segunda-feira. Temida e odiada por todos. Você se lembra do final de semana e pensa: “Pelo menos valeu a pena!”. Será que valeu a pena mesmo? Será que é isso mesmo que você pensa quando coloca a cabeça no travesseiro? Ah, o travesseiro! Ele, sim, sabe a resposta. Ele sabe, porque todas as noites responde às suas perguntas. Toda vez que as lembranças vêm na sua cabeça, você pergunta pra ele – por quê? E sabe por quê? Porque o cheiro ainda está ali. Porque quando você se sente sozinho, é ele que te acolhe. Porque no fundo, todos sabem que o refúgio está nele – e não na balada do final de semana passado.
O travesseiro te responde como era bom curtir uma noite tranquila em vez de uma loucura de momento. Ele ta aí pra isso mesmo. Pra te mostrar que enquanto você estiver nessa angústia interminável, nada vai valer à pena. Você levanta, fuma um cigarro, deita de novo e percebe que está sendo vítima da insônia mais uma vez. E é nessa hora que o menino chora e a mãe não vê. E chora mesmo, até soluçar. E quem é que ta ali pra enxugar o seu rio de lágrimas? Ele mesmo, o travesseiro. Um dia, todo mundo vai embora. Menos ele.
Coloca aquela música, que é pra incrementar o momento. Tempo Perdido, Legião Urbana, uma boa pedida, né? Também acho. Eu sei como é o fim da noite. Você abraça e aperta o travesseiro, porque agora ele é grande demais. Tá sobrando um lugar ali. E de repente você solta: “Somos tão jovens”. E somos mesmo. Somos tão jovens pra pensar que tudo foi tempo perdido, porque no fundo, com a cara enfiada no travesseiro, você sabe que não foi.
Amores mal resolvidos. É essa a resposta para a sua dor. O remédio? Jogar o travesseiro fora. Ele está velho, e o perfume de quem se deitava com você todas as segundas-feiras já se foi. É você quem insiste em ficar procurando o tempo todo. Por mais que a sua vontade seja que o cheiro volte e que o dono do cheiro volte pro lugar que agora sobra na sua cama, joga fora esse travesseiro, menina. E com ele, um pouquinho da sua dor. Da sua insônia. Da sua angústia. Joga fora porque pode ser que o dele já tenha sido trocado há tempos por um que não lembre mais você nem o seu cheiro.
Mas se algo em você diz que ainda vale a pena insistir, bota a música no repeatNem foi tempo perdido, somos tão jovens. Pode ser que ele ainda procure por você antes de dormir, pode ser que ele ainda sinta falta do seu jeito de dizer boa noite. Pode ser que o seu lugar na cama dele continue vazio. E que jogar o seu travesseiro fora não seja a saída mais inteligente. Afinal, com ele se vai o cheiro dele, mas o seu também. E um pouquinho da sua história. E um pouquinho das suas angústias. E um pouquinho daquilo tudo que faz de você o que você é hoje.
Agarra esse travesseiro, menina, porque você só vai descobrir que o ama mesmo quando deitar em outro e perceber que não está tão confortável assim. E que só o seu te faz dormir melhor.
Dedico este texto ao dono do Body Kouros, que me fez procurar outro travesseiro. E me mostrou que não adianta trocar, se você ainda não esqueceu do conforto do outro.
via:CSV

quarta-feira, 9 de outubro de 2013

Olha pra mim Zé, olha bem pra mim, eu sobrevivi. É, eu sobrevivi sem você. E veja bem, to firme, forte, e levando a vida numa boa. Tudo bem que eu tive 365 dias, 14 horas, 25 minutos e 54 segundos para colocar tudo no eixo, e que ainda não tive coragem de jogar todas essas suas tralhas fora, mas já é um grande progresso. E quer saber o melhor de tudo isso Zé? Eu sei caminhar sem precisar te dar a mão. Matutei pra aprender. Tive quedas dolorosas, e cheguei a machucar tão feio a ponto de ter cicatrizes, mas me equilibro como ninguém. Assumo que levei alguns meses para deletar seu número do meu celular, sim eu deletei seu número, não precisei da ajuda de nenhuma especialistaemdeletarnúmerosdeidiotas, eu mesma fiz esse grande favor para mim Zé, e olha só que grande merda, eu ainda sei ele de cor. Evitei deixar você aparecer em meus sonhos, e a perambular meus pensamentos. Não frequento mais aqueles lugares, não bebo mais aquelas bebidas, parei de comer aquelas comidas, não assisto mais aqueles filmes e nem leio todos aqueles livros, aqueles que tinham um pouco de você sabe. Fiz um buraco Zé, te joguei dentro e com todas aquelas coisas sem sentido que você me mostrou nessa vida, e enterrei. Vivo. Sem dó e sem culpa. Enterrei pra ver se te matava de uma só vez. E matei. Me matei. Porque em mim Zé, tinha um tanto de você, um tanto que se eu te contasse, assustaria. Mas a verdade é que você nunca entendeu. Confesso que passei semanas e mais semanas sentindo sua falta, chorando por essa sua maldita ausência. Dias e mais dias tentando entender o vazio que eu virei, o vazio que você me fez virar. Se eu gritasse, escutaria meu próprio eco, e até acordaria uma vizinhança. No inicio desse desespero todo, eu sentia muito por você, mas era muito amor, agora eu sinto muito, mas é muita pena Zé, pena porque jamais nessa sua vidinha de merda você vai se deparar com o amor outra vez, e se caso se deparar, vai se lembrar de mim e do quanto eu te amei. Não estou te jogando praga não Zé, é que tipinho feito você não merece tipinhos como eu. Ai você vai se arrepender por tudo que fez, vai bater aquela puta vontade de se embebedar e vai me ligar. Sabe por que Zé? Porque as garotas da sua agenda estão a procura de uma diversão, e não de ouvir um marmanjo feito você se lamentar pela vida que não deu certo. Porque de todas, eu fui a única que parei pra te escutar, mesmo que tenha sido o seu silêncio. E escutei. Como eu escutei. Porque veja bem Zé, comigo você tinha tudo, e agora você não tem nada. Nem ninguém. Você não é ninguém. E eu poderia ta rindo dessa sua cara de fracassado pelo resto da vida, e te agradecendo por ter me deixado, por ter me mostrado que me deixar ir embora era o primeiro passo para eu ser feliz, e olha só Zé, olha bem para mim, hoje eu sou feliz. Hoje eu sou tudo aquilo que você não conseguiu ser. Feliz. Esse tempo todo longe de você eu havia parado de escrever para ver se parava de sentir, para ver se parava de te procurar. Na verdade, não deu muito certo não, senti falta da escrita como uma criança sente de doces. Por isso voltei a escrever Zé, mas hoje não é mais sobre você, é sobre como eu aprendi a viver sem você.
— Thiara Macedo

Minha ressaca de você

Minha ressaca de você
Eu andei bêbada de você. Agora, o meu porre é pela sua falta. É pelas ligações que você não faz, pelas mensagens que não responde, pela reconciliação que não está disposto a ter. O meu porre é pelo carinha de xadrez no canto esquerdo do salão que não para de me olhar. E pela vontade que eu continuo tendo de que você resolva não me esquecer, enquanto olho no celular pela milésima vez na noite. Minhas amigas insistem que eu já bebi demais por hoje. Mas tento dizer para elas que as dores de cabeça, as olheiras e o enjoo da vida não têm nada a ver com o álcool: tudo isso foi o seu adeus que rendeu.
Alguém derruba tequila na minha blusa preferida, alguém pisa no meu pé e alguém me empurra no meio da música da Anitta. Depois, alguém simplesmente rouba o copo da minha mão e me beija. Não é você. Mas, enquanto você se mantém longe, eu deixo que ele invada a minha boca. E deixo que passeie com as mãos por lugares do meu corpo que você jurava, até ontem, que eram seus. É uma forma inconsciente de dizer: olha só, tão me roubando de você.
Enquanto me roubam do nosso passado, porém, é da sua sala que eu me lembro. Debaixo daquela almofada verde que fica no seu sofá, tem uma marca de cigarro que eu deixei nos nossos primeiros meses juntos. Qualquer dia, você bate o olho na mancha e se lembra de mim. Aquele creme que eu costumava passar nas suas costas quando te fazia massagem está na segunda prateleira do seu banheiro. E a comida no armário da cozinha fui eu que comprei. Deixei minha marca pela sua casa inteira, para você esbarrar comigo em cada hora do seu dia.
Eu vou esbarrando com você por aqui. Quando sinto meus pés doendo pelo salto que desacostumei a usar, lembro que nós dois não costumávamos sair. Eu ficava feliz em vestir sua camisa e passear descalça por seu apartamento de três cômodos, enquanto você tentava compor mais uma música que não iria para as paradas de sucesso. Eu era completamente louca pela sua voz, pelos seus acordes e pelos seus silêncios. Eu era completamente louca por você também. (E, boba que era, achei que era recíproco).
Cansada de lembrar de você, e com álcool e memórias demais no meu sangue, eu entro em um táxi qualquer e vou embora. Você ainda não se lembrou de mim. Ou é o que quer fingir, porque eu também já soube que você andou perguntando como eu ando para os nossos amigos em comum. Eu, por outro lado, lembrei como eu andava quando estava ao seu lado. Uma menina acuada pelos seus gritos, calada pelos seus ciúmes excessivos, diminuída pelas suas opiniões autoritárias. Todos os seus erros já passaram pela minha cabeça, e eu já me arrependi de você.
Eu chego em casa, me jogo na cama do jeito que estou e decido: acabou. Esse é o último porre que tomo de você e por você.
Karine rosa

Sobre Sonhos e Saudades

De vez em quando da saudade daquele  monte de história interrompida que a gente esqueceu porque tinha muita coisa pra fazer. E foi deixando pra traz por se tratarem de histórias curtas e complicadas demais  para perdemos tempo tentando fazer funcionar. E desconsideramos os pequenos momentos de fascínio que acontecem quando a gente percebe que algumas pessoas simplesmente estão destinadas a encontrar com outras, porque juntas são melhores.
Mas aparece uma ou outra complicação da vida e a gente abstrai, adormece, deixa pra lá. E de vez em quando tem um daqueles sonhos reais que poderiam muito bem ter acontecido. Aqueles sonhos que podem ter coisas boas ou ruins, mas que a gente não se importa porque ta do lado das pessoas certas. Aqueles sonhos que são bons simplesmente pela companhia e que te fazem pensar na hora de acordar que tem gente que a gente deveria ter pedido para ficar.
E não teve briga, impedimento, confusão. A gente só foi usando  desculpas pequenas para evitar o convívio e não mudar nossa rotina, e não alterar nossas convicções. Até que a distância acomodou e ficou estranho ser simpático. E ficou incomum perguntar da família ou dos sonhos pro futuro. E deu saudade. E deu vontade de ir atrás e dizer alguma coisa engraçada só pra ouvir uma risada familiar. E deu arrependimento por não ter gravado cada conversa produtiva no meio do monte de besteira que sempre era dito, só pra lembrar de vez em quando.
Deu esperança também. Sempre dá. Porque ao contrário do que dizem ela não é a última que morre. Ela nunca morre. Sempre fica lá, adormecida e vez ou outra resolve voltar junto com sonhos tentando consertar laços que foram desfeitos há muito tempo pela nossa falta de atenção.